Não é a primeira vez que esse casal aparece aqui na Divisa. Noruegueses, ele ainda fala um pouco de português. Ela, apenas algumas palavras. Adoram uma cachaça e uma droga. Cocaína, maconha. Desconfio que eles sejam traficantes internacionais, visto a intimidade que têm com os donos do morro do José Menino. Vivem em conflito, brigando. E ninguém entende o que eles dizem um ao outro. Mas, o Djavan, negão local, é chegado na gringa. O gringo desaparece morro acima, atrás de droga e meninas fáceis e Djavan resolve consolar a gringa. Os dois bêbados. Ela tenta se fazer entender em inglês mas não consegue. Djavan não fala inglês. A conversa segue: ela grunhindo uma língua cheia de sons sibilantes e o negão falando português com sotaque, imaginando que com isso ela o entenda. Mas, a comunicação tem os seus mistérios e Djavan conduz a gringa para o seu cafofo que fica no pé do morro, depois da linha da máquina, encarregando o gaguinho para avisar caso o gringo desça o morro. Mas, nesta noite, o gaguinho teve de sumir porque a barra pesou e a Divisa ficou lotada de viaturas da polícia. O gringo desceu antes da hora e deu merda. Queria saber onde estava sua mulher. Interrogou inutilmente o pessoal do bar do Regis, foi até a barraca do churrasqueiro na praça, foi até o quiosque na praia e nada. Voltou para o bar, sentou-se numa cadeira na porta e, visivelmente irritado, ficou vigiando a rua, bebendo Dreher puro. Ficou quieto e, vencido pela bebida cochilou, dormiu. Djavan apareceu na esquina com a gringa. Viu o gringo dormindo, chegou devagar, fez um sinal para a gringa sentar-se numa cadeira no fundo do bar e sentou-se perto dela. Ficaram lá bebendo cerveja. Então o gringo acordou com a voz da mulher e nervoso, levantou e começou a brigar gritando em norueguês com a mulher, que respondia gritando também. Então o Djavan levantou a mão espalmada para o alto,dizendo:
- Calma aí ô canadense. Tá Nervoso?
E o gringo:
- Onde ér que voceis tava com ela?
O Djavan, cruzando os braços e meneando a cabeça, diz:
- Muito bonito, hein? Ninguém saiu daqui! Ela foi no banheiro, você não procurou direito e
depois veio dormir aqui...
- Tá mi tchirano, negon?
- Tirando eu? Tá doidão é maluco?
- Eu non ser trouxa. Eu tchi mato negon.
Aí a gringa se levanta muito nervosa e grita:
- Párra! Párra já! Matar meu negon non. Ele bom amigo, intendhi?
E sai do bar, arrastando o gringo falando norueguês.
Djavan olha pro pessoal e diz:
-Eu hein! Põe uma cachaça aí Regis. Copo cheio que hoje já falei até alemão.